segunda-feira, julho 27, 2015

O CORPO CONTÉM TODOS OS MISTÉRIOS...


«O corpo contém todos os mistérios, todos os mistérios que todo o Universo contém; é um universo em miniatura. A diferença entre o corpo e o Universo está apenas na quantidade. Assim como um único átomo contém todos os segredos da matéria, o corpo contém todos os segredos do Universo. Não precisamos de ir em busca dos segredos fora de nós, basta virarmo-nos para dentro.
«E temos de cuidar do corpo. Não devemos estar contra ele, não devemos condená-lo. Se o condenarmos, condenaremos Deus, pois é no sítio mais recôndido do corpo que reside Deus. Deus escolheu esta casa do corpo para habitar. Respeite o seu corpo, ame o seu corpo, cuide do seu corpo.
«As intituladas religiões criaram um grande antagonismo entre o Homem e o seu corpo. É verdade que nós não somos o corpo, mas isso não significa que temos de estar contra ele; o corpo é nosso amigo. O corpo pode levar-nos ao Inferno, mas também pode levar-nos ao Céu. Ele é apenas um veículo. É neutro: onde quer que nos escolhamos ir, ele está pronto. Ele é um mecanismo de extrema complexidade, beleza e ordem. Quanto mais compreendemos o nosso corpo, mais respeito e admiração sentimos por ele. Então, o que dizer em relação ao Universo inteiro? Até este pequeno corpo é um milagre tão grande; é por isso que digo que o corpo é o templo do Divino.
«E quando a nossa atitude em relação ao corpo muda, torna-se mais fácil entrar nele, pois ele abre-se a nós. Permite-nos entrar; começa a revelar-nos os seus segredos. Foi assim que se começaram a conhecer os segredos do ioga. Foi assim que se começaram a conhecer os segredos do Tao. O ioga não surgiu da dissecação de cadáveres. A ciência médica moderna baseia-se em cadáveres e na sua dissecação. Isto tem algo de intrinsecamente errado. A ciência médica ainda não foi capaz de conhecer o corpo vivo. Dissecar um cadáver é uma coisa, saber algo sobre ele é outra, mas saber algo sobre um corpo vivo é totalmente diferente. A ciência moderna não tem forma de conhecer o corpo vivo. A única forma que ela conhece de o fazer é chacinando-o, abrindo-o, mas assim que ele é aberto, já não é o mesmo fenómeno. Compreender uma flor no seu caule, na árvore, é uma coisa; cortá-la e dissecá-la é outra completamente diferente. Já não é o mesmo fenómeno; a sua qualidade é diferente.
«Albert Einstein, enquanto homem, tinha qualidades que o seu cadáver não tinha, nem poderia ter. Um poeta morre; o corpo está lá, mas onde está o génio? O corpo do idiota e o corpo do génio são iguais. Ao dissecarmos um corpo, não somos capazes de saber se ele pertenceu a um místico ou a alguém que nunca teve consciência de nenhum dos mistérios da vida. É impossível, pois só estamos a olhar para a casa, e o ser que habitava nele já não se encontra lá. Estamos a estudar apenas a gaiola, mas o pássaro já não está lá; e estudar a gaiola não é estudar o pássaro. Não obstante, o corpo contém o Divino.
«O verdadeiro caminho é irmos para dentro de nós e vermos o nosso próprio corpo dessa perspetiva, do mais íntimo do nosso ser. Então, a alegria é imensa... Ver o seu funcionamento, o seu tiquetaque. É o maior milagre que já aconteceu no Universo.»
(In "corpo e mente", de OSHO, Pergaminho, págs. 23 a 25)

domingo, julho 12, 2015

AS BOLAS E O MEDO...


«"Mother, do you think they'll try to break my balls?" A frase é dos Pink Floyd - mas poderia ser minha, tua ou de quem nos apanhar. E porquê? Porque eu, tu e quem nos apanhar temos, todos os dias, de nos perguntar isso mesmo: "mãe, achas que eles vão tentar "partir-nos" as bolas?" Não tenha dúvidas: eles querem, mesmo, todos os dias, sem parar, como se não houvesse amanhã, dar-te cabo das bolas. Extraí-las, a sangue-frio, de ti. Porque é disso - da falta de bolas - que todo o sistema vive. E É POR ISSO - PELA FALTA DE BOLAS - QUE EU E TU E QUEM NOS APANHAR APENAS SOBREVIVEMOS: SUBVIVEMOS. E É POR ISSO QUE EU, NESTE MOMENTO, ENQUANTO ESCREVO ESTE TEXTO COM A MÃO DIREITA, ESTOU, COM A MÃO ESQUERDA, A AGARRAR NELAS (NAS BOLAS) E A MANDÁ-LOS BUGIAR. SÃO MINHAS, PALHAÇOS!
«O sistema vive do medo e o medo vive das pessoas que têm medo. E as pessoas que têm medo (apesar de haver um provérbio que diz que têm rabo, o que não é nada despiciendo) têm-se. E é por isso, por verem a possibilidade de deixarem de serem exactamente como se têm, que têm medo. Agora sou eu que estou com medo de que não tenhas entendido. Vou explicar de novo. Baixa os olhos para a linha abaixo, por favor. Grato.
«Reformulando: se tu pensares que, ao protestares, podes perder o que tens, o que é que sentes? Vá: não tenhas medo de o dizer. Isso mesmo: medo. Medo do grosso. Tanto medo que até te defecas todo. E o que é que isso te faz fazer? Exactamente: nada. Nem a ponta de um corno. Ficas quietinho, parado - fazes de morto para não te matarem o que tens. Mas a verdade é que tu, se não protestares, vais continuar, na melhor das hipóteses, a ter o que tens. Agora responde-me: o que tens é justo? Agora responde-me: o que te estão a fazer, e a todos à tua volta, é justo? Agora responde-me: seres tu a pagar pela merda que os gestores e os bancários e os governantes e os fedelhos todos dos mercados financeiros fizeram é justo? Pois.
«Vou repetir: o sistema vive do medo. Se tens medo, calas-te. Se te calas, o que está contigo cala-se. Em suma: o teu medo vale milhares de medos. Em suma: o teu medo vale milhares de silêncios. Em suma: o teu medo é a coisa mais valiosa que eles, o sistema, encontram em ti. Sem medo: és uma ameaça. Com medo: és um querido.
«Got it, caguinchas?»
(In "EU SOU DEUS", de Pedro Chagas Freitas, Chiado Editora, págs. 235 e 236)

STOP...


«Stop à subserviência, aos brandos costumes como de costume. Stop ao fado, à angústia, à mágoa parada, a ficares sempre a meio da estrada. Stop ao medo, à fuga, à cobardia de defenderes o que tens e de não ires em busca do que queres ter: do que mereces ter. Stop.
«STOP: Se Tens Orgulho Parte. Se Tu Ousares Podes. Se Tens Olhos Pula. E salta, e grita, e exige em vez de pedires, e manda em vez de tentares, e faz em vez de sonhares. Deixa-te de desculpas, de evasões. Deixa-te de te deixares, deixa-te de te perderes na malha dos teus receios. Vai, faz.
«Não sejas mariquinhas, não sejas picuinhas, não sejas um merdinhas.
«Parte o que tiveres de partir, ousa o que tiveres de ousar, pula para onde tiveres de pular, Sê o que eles, os que te colocaram entre a espada de não seres e a parede de teres de ser, te obrigaram a ser: uma máquina de luta contra os filhos da puta, um senhor da guerra pela paz, da arma pelo abraço, da loucura pela ternura. Sê actos graves contra a gravidade da situação. Sê o anti-mercado, o anti-escravidão, o homem que não se verga no chão. É isso - seres o animal que vai ou a besta que fica - o que está na tua mão.»
(In "EU SOU DEUS", de Pedro Chagas Freitas, Chiado Editora, págs. 228 e 229)

terça-feira, julho 07, 2015

O INDETERMINISMO QUÂNTICO...


«Reorganizemo-nos, durante um momento. Os primeiros 25 anos do século XX foram palco de um êxito triunfal na nossa descrição do mundo físico: Einstein e as suas teorias da relatividade, a mecânica quântica de Heisenberg, Schrödinger e outros.
«O aspeto invulgar da mecânica quântica não está relacionado com a sua eficácia como teoria física: é a teoria mais bem-sucedida que temos da Natureza, capaz de descrever com um rigor fantástico as propriedades de inúmeros materiais, moléculas, átomos e partículas subatómicas. O desafio, no caso da física quântica, prende-se com a sua interpretação, com compreender o que está a acontecer «realmente». Já vimos como os objetos pequenos apresentam em simultâneo um comportamento de onda e de partícula consoante os aparelhos experimentais a que são sujeitos. Vimos que este comportamento dual resulta de uma indeterminação intrínseca na Natureza, resumida no «princípio da incerteza» de Heisenberg. Vimos que uma consequência deste princípio é que observador e observado não podem ser separados, uma vez que o mero facto de observar afeta o que está a ser observado. E faz mais do que afetar, e este é um ponto controverso, "determina" o que está a ser observado. Deixem-me dizê-lo de uma forma diferente: se a mecânica quântica estiver certa, e não existe qualquer indício de que assim não seja, o observador determina a natureza física do que está a ser observado. Um eletrão não é onda nem partícula: "torna-se" uma ou outra consoante o modo como é observado. Numa experiência de colisão, um eletrão comporta-se como uma partícula; se o fizermos passar por duas fendas estreitas, cria um padrão de interferência como uma onda. No mundo quântico, tudo é potencialidade, uma lotaria onde os resultados dependem de quem (ou do que) está ao comando.
««Mas, de certeza», contraporiam os realistas científicos, «que, na Natureza, as coisas devem ser algo antes de as observarmos; "têm de" existir sob uma forma qualquer».
««Talvez», responderia um estrito defensor da mecânica quântica, «mas não podemos dizer o que é esse algo e, na verdade, não importa; o que importa é que podemos explicar as nossas experiências com esta construção, apesar de ser estranha».
««Está a dizer-me que as coisas só existem quando olhamos para elas? Que, na verdade, o eletrão não está ali até interagirmos com ele?»
««Sim, é precisamente o que estou a dizer. Para todos os fins práticos, o eletrão só existe quando o medimos».
««Então, e no caso das coisas maiores? Afinal as rochas são feitas de átomos, as árvores são feitas de átomos, as pessoas são feitas de átomos. Também não estão ali até olharmos para elas?».
««Em sentido estrito, é verdade. Não sabemos se uma coisa existe enquanto não interagirmos com ela, incluindo as coisas grandes; "presumimos" que estão lá porque já estavam antes, mas não podemos ter a certeza enquanto não olharmos. Mas, na prática, a maior parte das pessoas imagina que deve haver uma linha divisória, ou melhor, uma região de transição onde o classicismo assume a preponderância como uma descrição eficaz da realidade física. Isto explica-se usando uma coisa chamada «decoerência», que exploraremos um pouco mais tarde.»
««Claro. Mas ninguém sabe como definir essa região de transição, não é? Em teoria pelo menos, nada existe até ser observado.»
««Parece tonto, eu sei. É por isso que não gostamos de ir lá. Usamos a mecânica quântica consoante é necessária, fazemos cálculos com ela e vamos para casa.»
««Tudo bem se não está preocupado com compreender verdadeiramente a natureza da realidade, se se contenta apenas com calcular coisas. Não que ir para além da prisão de "para todos os fins práticos"?»
««Bem, talvez a noção da mecânica quântica seja simplesmente que não podemos compreender a natureza da realidade, que temos de aprender a viver com essa perceção e aceitar que apenas podemos ter um conhecimento parcial do que a realidade é. Temos de aprender a abrir mão.»
««Não aceito. E quanto ao Universo em si? Não era pequeno perto do "Big-Bang"? Não era, na altura, um objeto quântico? Se era e se tudo é quântico, o Universo não deveria ser ainda um objeto quântico? Ou agora é clássico? Quem está a observá-lo?»
««Desculpe, amigo, mas está na hora de eu ir para casa.»
««"Esse est percipi"... Não foi isto o que o bispo George Berkeley afirmou, em 1710, "Ser é ser percebido"?»
««Sim, mas Berkeley afirmava isto como uma prova da existência de Deus, o eterno observador que, assim, dá realidade a todas as coisas. Não creio que nos ajude a compreender a mecânica quântica.»
««Os mistérios da existência e da natureza da realidade ficam entrelaçados...»
««Muito bem, agora vou "mesmo" para casa!»
«O esquivo comportamento quântico não está restrito ao muito pequeno; tudo é quântico, tudo é agitado e incerto. A diferença é que, no caso dos objetos pequenos, a agitação tem um impacto enorme, enquanto os objetos grandes têm agitações quânticas tão pequenas que parecem não ter nenhuma. O que se passa é que o mundo é quântico e não clássico. A mundivisão newtoniana é uma abordagem muito bem-sucedida ao que acontece nos objetos grandes, quando é «seguro» desprezar quaisquer efeitos quânticos. No entanto, é apenas uma abordagem. Embora existam maneiras de calcular quando é que os efeitos quânticos se tornam insignificantes (por exemplo, um pequeno comprimento de onda de De Broglie em comparação com as dimensões do sistema, temperaturas elevadas, forte influência ambiental), alguns efeitos quânticos persistem até escala surpreendentemente grandes. O Universo como um todo é quântico?»
(In "A ILHA DO CONHECIMENTO", de Marcelo Gleiser, Temas e Debates-Círculo de Leitores, págs. 255 a 258)
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