domingo, maio 14, 2017

FALSAS MEMÓRIAS (TODOS TÊM…)…


«O trabalho pioneiro desenvolvido pela Professora Elizabeth Loftus, da Universidade da Califórnia, em Irvine, dá-nos algumas pistas sobre a maleabilidade da nossa memória. Ela transformou o campo da investigação da memória demonstrando quão suscetíveis são as memórias.
«Loftus concebeu uma experiência em que convidava voluntários para verem filmes de acidentes rodoviários, a quem depois fazia uma série de perguntas para testar o que recordavam. As perguntas que fazia influenciavam as respostas que recebia. Ela explica: “Quando perguntava a que velocidade iam os carros quando bateram um no outro, em vez de perguntar a que velocidade iam os carros quando se enfaixaram um no outro, os participantes faziam diferentes estimativas da velocidade. Eles achavam que os carros iam mais depressa quando eu usava a palavra enfaixar.” Intrigada pela forma como essas perguntas sugestivas podiam contaminar a memória, decidiu ir mais longe.
«Seria possível implantar memórias completamente falsas? Para o descobrir, recrutou vários participantes cujas famílias foram posteriormente contactadas pela equipa para obter informações sobre acontecimentos do passado desses voluntários. Munidos dessas informações, os investigadores montaram quatro histórias acerca da infância de cada um dos participantes. Três delas eram verdadeiras, a quarta continha informações plausíveis, mas era inteiramente falsa. Essa quarta história era sobre uma vez em que a pessoa, em criança, se tinha perdido num centro comercial e tinha sido encontrada por uma simpática idosa que acabou por a entregar a um dos pais.
«Numa série de entrevistas, os participantes ouviram as quatro histórias. Pelo menos um quarto dos indivíduos afirmou lembrar-se do incidente de se ter perdido no centro comercial, mesmo não tendo de facto acontecido. E não se ficaram por aí. Loftus explica: “Eles podem começar por se lembrar vagamente. Mas quando regressam, uma semana depois, começam a lembrar-se de mais qualquer coisa. Podem mesmo falar da senhora de idade que os salvou.” Com o tempo, mais e mais detalhes se juntam à falsa memória: “a senhora idosa tinha um chapéu esquisito”, “eu estava com o meu brinquedo preferido”, “a minha mãe estava furiosa”.
«Portanto, não só foi possível implantar memórias novas e falsas no cérebro, como as pessoas as acolheram e embelezaram, acrescentando inconscientemente fantasias à sua identidade.»
(In “O Cérebro”, de David Eagleman, Lua de Papel, págs. 27 a 29)
COMENTÁRIO MEU:
Era bom que começassem a explicar estas descobertas científicas aos magistrados que se formam no CEJ, para evitar que casos como o do processo Casa Pia se repitam, em nome da propaganda de que “as crianças não mentem”…
Era bom, também, que explicassem aos formandos do CEJ que “regras de experiência comum” são regras adquiridas por experiências intersubjetivas, e NÃO as experiências subjetivas dos senhores magistrados (se é que as têm…)…
- Victor Rosa de Freitas -
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